Café

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sexta-feira, 5 de setembro de 2014

O abajur da Madame !



Se Madame fosse agora fazer uma listinha das coisas que não gosta, certamente o primeiro pensamento que viria à cabeça seria “ESCURO”.
Desde que me entendo por gente, incomoda-me muito ficar no escuro.
É aquele incomodo que se mistura com medo, com ansiedade e com tristeza.
Sempre que falta luz fico encolhida num canto.
Aguardando ansiosa o retorno de um feixe de luz que me traga alívio.
Parece bobo, mas é exatamente assim.

Passo a semana em outra cidade, trabalhando.
Quase 300 km distante das coisas que são verdadeiramente minhas.
Não falo isso com queixas de quem é muito apegado às coisas materiais, mas porque existem coisas minhas que me fazem falta de verdade ... tipo o colchão durinho da minha cama, o banheiro quase salão de beleza que fui ajeitando aos poucos, os utensílios de cozinha que permitem uma refeição mais ajeitada, meu ar condicionado, minha televisão  ... Estar próxima a estas coisas que parecem pouco ou quase nada me trazem uma sensação de conforto que não há dinheiro que pague.

Madame nunca pôde ser muito dada a luxos, nunca teve dinheiro pra isso, sabe?
Optei por não me importar se o sapato que está nos meus pés não é o mais lindo ou o mais novo (já disse, uso LITERALMENTE, até acabar !), contudo que pagar a conta de luz depois do mês inteiro dormindo horas preguiçosas no ar condicionado não me seja um sacrifício ...
Optei por não me importar se a saia que estou vestida é de alguma marca famosa (ok,  até porque meu bem, a etiqueta fica colada na bunda ),  contanto que possa ir ao mercado sábado de manhã comprar uma peça de filet mignon (meu corte de carne preferido de hoje até a eternidade ! rsrs)
Madame é uma criatura cuja vaidade reside em se sentir confortável.
Não que eu não me adapte a outras situações .... mas gosto de um confortinho !
Viver, confortavelmente, tem um preço.
Um preço alto.

Onde me hospedo durante a semana não é o lugar mais confortável do planeta.
Estou de frente para um grande cartão postal.
Atravessando a rua estou num lugar sonho-de-consumo-de-turista.
Mas ... por fora bela viola ... por dentro pão bolorento.
Problema hidráulico, elétrico e outras coisinhas mais foram surgindo ao longo dos 6 meses que estou aqui.
Os problemas e aborrecimentos são tantos que foram minando minha energia.
Fui me sentido triste.
Triste.
Diante de coisas que eu não conseguiria resolver sozinha e faltava-me coragem de chamar um dos porteiros para solicitar ajuda. Faltava-me coragem para colocar um estranho dentro de casa. Pra trocar uma simples lâmpada, para arrumar o vazamento do banheiro, para recolher o aparelho da TV por assinatura, para qualquer coisa ...

O quarto escuro estava, de verdade, me reduzindo aos poucos.

Hoje, inesperadamente, recebi uma caixa.
Passei o dia louca, louca para ver .
Deixei para abrir quando chegasse do trabalho.
Sentei no chão e a abri, temendo rasgar a caixa toda ... E eis que retiro da caixa o abajur mais lindo e chique que já vi na vida.
Fiquei  trêmula de felicidade.
Corri para colocar num lugar alto e eis que me senti insuportavelmente feliz.

O abajur é tão, mas tão significativo para Madame!
Não é o valor material da peça chique de doer , mas o que ela representa em meio ao caos. É significativo eu receber uma fonte de luz. Tem como imaginar o que Madame está sentindo ?
Ele veio  com tantas coisas boas que não me encontro em condições de agradecer.
Felicidade resume o que estou sentindo.

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