Se Madame fosse agora fazer uma
listinha das coisas que não gosta, certamente o primeiro pensamento que viria à
cabeça seria “ESCURO”.
Desde que me entendo por gente,
incomoda-me muito ficar no escuro.
É aquele incomodo que se mistura
com medo, com ansiedade e com tristeza.
Sempre que falta luz fico
encolhida num canto.
Aguardando ansiosa o retorno de
um feixe de luz que me traga alívio.
Parece bobo, mas é exatamente
assim.
Passo a semana em outra cidade,
trabalhando.
Quase 300 km distante das coisas
que são verdadeiramente minhas.
Não falo isso com queixas de quem
é muito apegado às coisas materiais, mas porque existem coisas minhas que me
fazem falta de verdade ... tipo o colchão durinho da minha cama, o banheiro
quase salão de beleza que fui ajeitando aos poucos, os utensílios de cozinha
que permitem uma refeição mais ajeitada, meu ar condicionado, minha
televisão ... Estar próxima a estas
coisas que parecem pouco ou quase nada me trazem uma sensação de conforto que
não há dinheiro que pague.
Madame nunca pôde ser muito dada
a luxos, nunca teve dinheiro pra isso, sabe?
Optei por não me importar se o
sapato que está nos meus pés não é o mais lindo ou o mais novo (já disse, uso
LITERALMENTE, até acabar !), contudo que pagar a conta de luz depois do mês
inteiro dormindo horas preguiçosas no ar condicionado não me seja um sacrifício
...
Optei por não me importar se a
saia que estou vestida é de alguma marca famosa (ok, até porque meu bem, a etiqueta fica colada na
bunda ), contanto que possa ir ao
mercado sábado de manhã comprar uma peça de filet mignon (meu corte de carne
preferido de hoje até a eternidade ! rsrs)
Madame é uma criatura cuja
vaidade reside em se sentir confortável.
Não que eu não me adapte a outras situações .... mas gosto de um confortinho !
Viver, confortavelmente, tem um
preço.
Um preço alto.
Onde me hospedo durante a semana
não é o lugar mais confortável do planeta.
Estou de frente para um grande
cartão postal.
Atravessando a rua estou num
lugar sonho-de-consumo-de-turista.
Mas ... por fora bela viola ...
por dentro pão bolorento.
Problema hidráulico, elétrico e
outras coisinhas mais foram surgindo ao longo dos 6 meses que estou aqui.
Os problemas e aborrecimentos são
tantos que foram minando minha energia.
Fui me sentido triste.
Triste.
Diante de coisas que eu não
conseguiria resolver sozinha e faltava-me coragem de chamar um dos porteiros
para solicitar ajuda. Faltava-me coragem para colocar um estranho dentro de
casa. Pra trocar uma simples lâmpada, para arrumar o vazamento do banheiro,
para recolher o aparelho da TV por assinatura, para qualquer coisa ...
O quarto escuro estava, de
verdade, me reduzindo aos poucos.
Hoje, inesperadamente, recebi uma
caixa.
Passei o dia louca, louca para
ver .
Deixei para abrir quando chegasse
do trabalho.
Sentei no chão e a abri, temendo
rasgar a caixa toda ... E eis que retiro da caixa o abajur mais lindo e chique
que já vi na vida.
Fiquei trêmula de felicidade.
Corri para colocar num lugar alto
e eis que me senti insuportavelmente feliz.
O abajur é tão, mas tão
significativo para Madame!
Não é o valor material da peça
chique de doer , mas o que ela representa em meio ao caos. É significativo eu receber uma fonte de luz. Tem como imaginar o que
Madame está sentindo ?
Ele veio com tantas coisas boas que não me encontro em
condições de agradecer.
Felicidade resume o que estou
sentindo.
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