Café

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segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Arrumação

Arrumação

Acordei hoje cedinho com meu celular tocando.
Com os olhos ainda fechados, fui tateando o edredon até encontrar o celular para atendê-lo.
Era uma representante de um grupo de senhoras perguntando se eu poderia doar roupas de cama e banho o que respondi positivamente.
Levantei da cama e não quis perder tempo.
Abri as portas do armário e comecei a fazer descer lençóis , fronhas, edredons e toalhas de banho.
No meio de muitas roupas de cama que eu honestamente não uso, surgiu uma peça íntima do meu ex-marido. Meu primeiro pensamento foi : "O que esta praga do Egito está fazendo aqui ?"

Digo "praga do Egito" porque aquela peça íntima me remeteu a um passado de muita tristeza que não convinha lembrar... mas a vida tem destas coisas ...
Empacotei tudo em sacolas enormes e me programei a ir levar no posto de coleta somente no final da tarde.
Pois bem ...

Preciso ter uma conversa com uma grande amiga e não sabia por onde começar.
Acho que agora já sei.

Sou uma pessoa muito , muito organizada.
Gosto de armários arrumadinhos, com roupas passadas e cheirosas.
Arrumo gavetas e sei exatamente o que tenho guardado em cada uma delas.
Mas apesar de toda esta organização descobri uma cueca de uma pessoa que não faz parte do meu convívio há 2 anos.... Esta cueca me desestabilizou .

Não  saudosa .... nem pensar num vudu destes .
A cueca me desestabilizou porque eu não contava em encontrá-la.
Foi uma surpresa desagradável.
Fiquei profundamente triste e decepcionada comigo mesma.

Decepcionada em pensar como fui capaz de não perceber que algo tão ruim estava tão perto .
Chorei, porque chorar era inevitável.
O que dói , dói ... e uma das formas de aliviar a dor é colocá-la para fora.

Agora, com as portas do armário escancaradas e algumas prateleiras vazias me pego pensando em algumas questões ... eu sempre fui organizada, ok ... não vou me depreciar me achando uma dona de casa desleixada por encontrar algo que não me pertence ... mas a maior lição que tiro da manhã de hoje é a questão da arrumação.

Nós nos acomodamos aquilo que parece arrumado em nossas vidas.
Parece que está arrumado.
Mas não está.
No fundo de um armário descobre-se coisas que não fazem parte do nosso cotidiano, não nos faz mais feliz e sempre inventamos a desculpa de :"para quê mexer no armário ?"

Se eu não tivesse mexido no armário nesta manhã, se eu não tivesse desarrumado o armário nesta manhã, estaria acomodada a triste realidade de ter uma cueca do meu ex-marido até Deus sabe quando.

Sofri, não vou negar.
Descobrir a cueca me fez acreditar que sou mesmo um fiasco de dona de casa.
Mas , o grande insight que tive foi :
Foi através de uma grande bagunça, de uma grande confusão, de uma desarrumação que eu verdadeiramente pude colocar as coisas nos seus devidos lugares.

Se eu não tivesse jogado tudo para o alto, não saberia que algo que me incomoda tanto estava escondido.
Deu trabalho arrumar tudo.
Deu angústia ponderar quais lençóis, quais toalhas eu doaria ou não.
Não é fácil abrir mão das coisas.
Não posso me cobrar uma abnegação que não tenho.
Custou muito ter tudo e mesmo em tempos de calamidade, a gente sofre quando tem que eleger o quê abrir mão ... sempre achamos que não resistiremos sem este ou aquele elemento do nosso armário.

Posso contar um segredo ?
Meu armário ficou agora praticamente vazio.
Só ficaram uns 3 jogos de lençóis e de toalhas para meu uso cotidiano.

Não serei hipócrita , estou doando com alegria de servir ao próximo.
Mas, para servir ao próximo estou podando um galho .

Não quero repor no armário aquilo que tirei.
Tirei porque estava na hora.
E há hora para tudo na vida.
Mas, se eu chorar baxinho e confessar que a arrumação me deixou triste, por favor me perdoem.

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